top of page

LUGAR INVENTADO

Lugar Inventado #65
Série Deleites . 2024
25 x 32 cm
Obra única

LUGAR INVENTADO
Uma fusão entre realidade, memória e sensações


Ao longo da história, artistas viajantes utilizaram o desenho como ferramenta para captar a essência dos lugares que exploraram. Nos séculos XVIII e XIX, pintores como Johann Moritz Rugendas e Thomas Ender, que viajaram pelo Brasil, criaram registros vívidos da paisagem, da cultura e das pessoas, conectando o olhar do artista à experiência direta do local. Esses registros não eram apenas documentais; eles carregavam as emoções, as percepções subjetivas e as impressões sensoriais do momento vivido, transformando o espaço físico em uma memória visual complexa.


O ato de desenhar durante as viagens permite que o artista não apenas registre o mundo, mas também se conecte emocionalmente a ele. Cada gesto no papel é moldado não apenas pelo que os olhos veem, mas pelo que a pele sente e a mente interpreta. Assim, o lugar não é apenas um ponto no mapa, mas uma experiência vivida que, ao ser transposta para uma obra, existe tanto no mundo real quanto no imaginário. Realizar esse trabalho é, nesse sentido, criar um portal entre a materialidade do espaço e a subjetividade da memória.


Na contemporaneidade, a relação com o ato de registrar viagens se expandiu. Com a tecnologia, podemos investigar visualmente qualquer lugar do mundo sem estar fisicamente presentes. Ferramentas como o Google Earth ou as redes sociais oferecem janelas digitais para explorar paisagens, culturas e atmosferas. No entanto, mesmo com esse acesso remoto, o desenho tradicional mantém um valor inestimável: ele exige tempo, observação cuidadosa e uma interação íntima com o espaço — algo que as imagens digitais prontas não oferecem.


A combinação entre a vivência in loco e a possibilidade de investigação remota transforma o artista viajante atual em um explorador híbrido. A tecnologia pode auxiliar na pesquisa e ampliar horizontes, mas o desenho ainda é o que conecta profundamente o artista à sensação única de um lugar. Ele capta não apenas a aparência, mas a alma do espaço, permitindo que memórias pessoais e coletivas coexistam em uma narrativa visual.


Hoje, assim como nos tempos dos grandes pintores viajantes, os desenhos realizados em viagens continuam a nos lembrar de que os lugares não são apenas geográficos: eles são também sensoriais e atemporais. Eles existem tanto em sua materialidade quanto na memória que carregamos, recriados por cada traço intencional.

bottom of page